Em 1891, o papa Leão XIII, representante da igreja católica, publicou a encíclica Rerum Novarum. Revivificava a religião como instrumento de reforma e justiça social e declarava-se contra o marxismo. A preocupação imediata da Igreja não foi com a situação do operário em si, como ser humano despido de direitos básicos, submetido a um regime que chegou a ser pior do que a escravidão (os escravos, assim como os animais, não eram submetidos a longas jornadas de trabalho, pois representavam bens, e, como tais, deveriam ser usados com moderação, para não depreciarem-se; os operários europeus eram submetidos a uma jornada que chegava a dezesseis horas por dia, sem falar na utilização das "meias-forças"). A grande preocupação da Igreja era com os efeitos políticos dessa exploração, não os morais ou biológicos. E os operários já estavam começando a ganhar o apoio do marxismo, tirando a igreja católica, já que o marxismo era contra a Igreja católica. As da luta de classes já estampavam as obras de Marx, dando apoio às pretensões revolucionárias. A estrutura sócio-política da época, garantidora de privilégios, inclusive para Roma, estava por um fio. O clamor social era latente. As teorias socialistas vinham num crescente, infiltrando-se, principalmente, nos sindicatos dos trabalhadores. O medo da "ebulição social" foi tanto que levou o papa Leão XIII a lançar propostas de conciliação entre capital e trabalho, enaltecendo, contudo, que ambos eram vitais (para perder o mínimo de pessoas). A igreja católica também se colocou contra o escravismo.
terça-feira, 27 de março de 2007
Os Males
No século XIX encontrar-se uma Europa dominando o mundo. A Revolução Industrial, a mudança no modo de produção, o crescimento da produção em escala e as mudanças nos sistemas de comunicação - a chegada dos navios a vapor, as estradas de ferro e o telégrafo - levaram a uma expansão do comércio europeu, que foi acompanhada de um fortalecimento do poder armado na maior parte dos estados europeus. A primeira conquista de um país árabe foi a da Argélia, pela França. Os países europeus eram os ricos, eles detinham a tecnologia da época. Os povos dominados, até tentaram, mas não conseguiram em um primeiro momento, sair da dominação européia. Com os europeus no poder do tráfico negreiro fez com que, a partir dos séculos XVIII e XIX, em que houve expressiva representatividade de pessoas oriundas do Sudão Central, chegassem ao Brasil novos mulçumanos. A foto acima, mostra a desumanidade com os negros já nos navios. No lucro, até a igreja tinha uma porcentagem dos escravos que entrasse (taxa). Os negros mulçumanos sudaneses são assim descritos pelo autor Arthur Ramos em sua obra "Introdução à Antropologia Brasileira":
"Eram altos, robustos, fortes e trabalhadores. Usavam como os outros negros mulçumanos, um pequeno cavanhaque, de vida regular e austera, não se misturavam com os outros escravos."
Eram denominados "malês", que significa professores, educadores em árabe. Organizaram a recuperação da religião islâmica entre os escravos, a partir dos registros em memória do Sagrado Alcorão e das tradições do Profeta Muhammad (saws). Promoveram, ainda que de forma secreta, atividades de alfabetização e memorização do texto sagrado. Mesmo enfrentando oposição e perseguição do proprietários de escravos, escreviam panfletos, se comunicavam em árabe, e se organizavam constituindo conselheiros e juízes em suas comunidades.
Alguns conseguiram a alforria, por aprender um ofício, como por exemplo a carpintaria, ou por outro motivo. Entre os que conseguiram a liberdade alguns viajaram à África, buscando restabelecer o contato com os centros islâmicos em seus países de origem. Existem registros e indícios que sustentam a tese de que a alguma comunicação foi em parte estabelecida. Como exemplo pode-se citar, tendo como referência pesquisa de Paul E. Lovejoy: "Abd- al Rahman al-Baghdadi al-Dimashqi foi para o Rio de Janeiro em 1865 e travou conhecimento com mulçumanos clandestinos vivendo lá, ficou dois anos para instruir mulçumanos locais nos rituais e normas do Islam."
Os malês foram os grandes idealistas das revoltas e dos movimentos de libertação. Instruídos, com capacidade de organização, e motivados pelos ideais islâmicos de liberdade e resistência à tirania, mobilizaram seus pares em diversas revoltas. O início do século XIX foi marcado por uma seqüência de revoltas denunciando o clima de tensão crescente e o inconformismo com a situação de escravidão. As principais ocorreram nos seguintes meses e anos: maio de 1807; 4 de janeiro de 1809; fevereiro de 1810; fevereiro de 1814; janeiro e fevereiro de 1816,; junho e julho de 1822; agosto e dezembro de 1826, abril de 1827; março de 1828; abril de 1830. Em 25 de janeiro de 1835 estoura uma revolta de grandes proporções que passou a ser conhecida na história como "Guerra dos Malês". Os revoltosos percorreram as ruas da capital da Bahia, atacaram o palácio do Presidente da província, invadiram quartéis, enfrentaram tropas e fragatas de guerra ancoradas no porto. Foram totalmente subjugados pelas forças do governo.
A partir da revolta dos malês a religião islâmica passou a sofrer uma severa repressão. Foi taxada como religião selvagem que incitava a revolta nos negros escravos, então considerados seres sem alma humana. Para a mentalidade da época, não havia que se pensar, para seres sem alma, em direito à liberdade, à justiça, à vida, à religião ou à dignidade. Depois disso, mulçumanos foram julgados e muitos condenados à morte. Outros foram deportados para a África, para reduzir a influência deles. Os que escaparam, passaram a viver clandestinamente. Com tudo isso, podemos notar que a religião foi a motivadora e a grande ajuda que eles tiveram.